Plataformas digitais do agro: desafios e oportunidades de um caminho sem volta
OPINIÃO
Fonte: Canal Rural Foto: Envato |
A irreversibilidade da migração do agronegócio brasileiro para
o ambiente digital está contratada. Porém, os desafios para incorporar
definitivamente todos os produtores nas interações em plataformas, marketplaces
ou e-commerces são significativos.
Esses ambientes digitais, geralmente, concentram ofertas de
conteúdos de qualidade, conhecimento, soluções comerciais e técnicas para o
setor. A generalização de acesso e uso dos recursos digitais são determinantes
para acelerar a difusão de soluções inovadoras e disruptivas, tanto para a base
tecnológica como para a sustentabilidade socioeconômica e ambiental da produção
agropecuária.
As agtechs que ofertam conteúdos, soluções digitais, bens e
serviços encontram barreiras de diferentes ordens, que vão desde conectividade,
estratégias empresariais e escassez de oferta de crédito digital. A cobertura
da conectividade no campo é um dos temas sensíveis para a democratização do
acesso aos conteúdos e informações relevantes para a tomada de decisão do
produtor, com impacto direto na produtividade e na rentabilidade.
As plataformas digitais contribuem para a redução da
assimetria informacional, o que é chave para o sucesso da atividade. Essa
barreira, em que pese a disponibilidade de soluções de mercado, ainda padece de
priorização na agenda pública.
Parte relevante das propriedades rurais não está conectada à
internet – nem na sede, nem no campo. As que estão conectadas enfrentam
problemas de qualidade e de custo. Portanto, conectividade de qualidade faz
parte do conjunto de ações indispensáveis para o desenvolvimento da vida produtiva
e socioambiental das comunidades rurais.
Do ponto de vista da estratégia comercial das empresas que
compõem as diferentes cadeias de produção agropecuária, observa-se, assim como
aconteceu em outras indústrias, que os fabricantes, revendedores e prestadores
de serviços acabam tendo uma velocidade menor na adesão às ferramentas digitais
para comercialização de seus produtos, principalmente por uma falta de
disseminação da cultura e importância do digital na estratégia.
O hiato na cultura digital das empresas desse setor está
refletido na tímida presença on-line em marketplaces. Quando estão presentes,
os seguintes problemas são evidenciados:
- Baixa
qualidade dos anúncios;
- Poucas
fotos do produto, com baixa qualidade;
- Ausência
de descrições detalhadas e atrativas dos bens e serviços;
- Produtos
sem a publicação de preço, o que não agrega na experiência digital do
produtor rural;
- Baixa
responsividade às manifestações de interesse de compra digital (lead),
o que pode estar ligado à falta de crença dos vendedores de que o lead é,
de fato, um real comprador interessado; e
- Baixo
conhecimento dos times de vendas em marketing digital e uso de dados,
indispensáveis para potencializar negócios no e-commerce.
Por fim, o crédito rural, no mundo digital, ainda padece dos
problemas do mundo analógico, pois as características de assimetria de
informação e as restrições em matéria de garantias e riscos (custos de
transação) ainda persistem como problema a serem tecnologicamente superados.
Nos últimos anos, as tecnologias da informação, o tratamento
de grandes volumes de dados, a computação em nuvem e a inteligência artificial
têm impulsionado rapidamente o desenvolvimento das agfintechs e plataformas de
negócios digitais agro, que surgem como modelos de financiamento potencialmente
transformadores para resolver esse complexo problema para os agricultores.
O mercado tradicional de crédito, via sistema bancário, em
função do alto custo de transação e/ou garantias, estimula os tomadores, ainda
que sejam elegíveis, a optarem por combiná-lo com outras formas de
financiamento (autofinanciamento, barter, entre outros).
O crédito digital baseado em tecnologia da informação está
rompendo gradualmente as limitações de tempo e espaço da oferta financeira
tradicional. Algumas vantagens são evidentes: melhoria da assimetria de
informações, aumento da eficiência dos serviços, redução dos custos de
transação e otimização do controle de riscos.
Em que pesem as vantagens do crédito rural digital, ele
ainda necessita de maior disseminação e maior adoção pelos produtores. O campo
brasileiro é heterogêneo e sofre restrições na estrutura econômica regional e
nos fatores naturais de produção. Portanto, a questão é entender em que medida
o crédito digital pode democratizar, trazer comodidade e reduzir custos aos
produtores e alavancar negócios para os demais integrantes da cadeia agro.
Em síntese, os desafios aqui elencados são transversais a
todas as plataformas, marketplaces e e-commerces voltados ao agronegócio brasileiro.
A cobertura da conectividade é uma variável que depende de um esforço público e
privado. Já a modernização das estratégias empresariais e a oferta de crédito
digital dependem de uma concentração de esforços capazes de mobilizar os atores
digitais no sentido de acelerar a maturação desse importante, irreversível e
crescente mercado.
Michel Jorge Samaha - Diretor-presidente da Broto S.A.
Francisco
Roder Martinez -Diretor-executivo da Broto S.A.
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