Feriado da Consciência Negra expõe contraste entre celebração e a realidade da desigualdade no Brasil
Por Aparecido Marden, Jornalista. Imagem: br-photo/Getty Images
A partir deste ano, o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) passa a ser feriado nacional. A data, que homenageia Zumbi dos Palmares e simboliza a resistência do povo negro contra a escravidão e o racismo, já era celebrada em diversos estados e municípios, mas agora terá validade em todo o território brasileiro.
Reconhecimento simbólico, mas ainda distante da
igualdade
A oficialização do feriado é, sem dúvida, um marco
importante para a valorização da cultura e da história afro-brasileira. No
entanto, é impossível ignorar que o racismo estrutural segue presente — e
mortal.
De acordo com a Rede de Observatórios da
Segurança, que divulgou a sexta edição do relatório 'Pele Alvo: crônicas de dor
e luta', 4.068 pessoas foram mortas por policiais em 2024 em nove estados
brasileiros. Dentre as vítimas, 3.066 eram negras, o equivalente a 86,2% dos
casos.
Esses números expõem um país que ainda não
aprendeu a lidar com suas feridas históricas. Enquanto alguns celebram o
feriado, outros continuam temendo sair de casa — e não voltar.
Entre o discurso e a realidade
O Brasil gosta de se apresentar ao mundo como
uma nação miscigenada, pacífica e acolhedora. Mas os dados mostram que essa
imagem não corresponde à realidade vivida por milhões de pessoas negras. A
desigualdade racial está presente em quase todos os indicadores: acesso à
educação, mercado de trabalho, sistema prisional e, sobretudo, na segurança
pública.
Ter um dia dedicado à Consciência Negra é
fundamental para lembrar a importância da luta contra o racismo. Porém, não
basta um feriado se, nos outros dias, seguimos morrendo apenas por sermos
negros.
Consciência deve ser diária
Mais do que um feriado, a data precisa ser um
chamado à ação. É hora de o país enfrentar com coragem o racismo institucional
e o preconceito velado que insistem em ditar quem pode sonhar e quem deve se
esconder.
A verdadeira consciência negra deve ser vivida
todos os dias — nas escolas, nas ruas, nas empresas e, principalmente, nas
decisões políticas.
Porque, no fim das contas, ser negro no Brasil
ainda é um ato de resistência.
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