CCJ do Senado rejeita PEC da Blindagem por unanimidade
| Fonte: Agência Brasil Foto: Lula Marques |
A Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) do Senado rejeitou, por unanimidade, nesta quarta-feira (24), a
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem. Todos os 27 senadores da
CCJ votaram para rejeitar completamente a PEC.
A proposta previa autorização
prévia da Câmara ou do Senado, por meio de voto secreto, para processar criminalmente
deputados e senadores.
O presidente da CCJ, senador Otto
Alencar (PSD-BA), informou que o relatório aprovado, rejeitando a PEC, deve ir
ao plenário da Casa ainda nesta quarta-feira para que o texto seja deliberado
por todos os 81 senadores.
"Vamos ao Plenário, com
compromisso do presidente Davi Alcolumbre [União-AP], de encerrar hoje essa
votação e, sem dúvida nenhuma, rejeitar essa Proposta", revelou.
Votação na Câmara
Aprovada por maioria de 353
votos no primeiro turno de votação no Plenário da Câmara, nenhum senador
defendeu a PEC 3/2021 na CCJ do Senado.
Mais de 20 senadores se
inscreveram para falar contra a PEC, que foi alvo de protestos massivos no último domingo
(21), tendo sido apelidada de “PEC da Bandidagem”.
O relator Alessandro Vieira
(MDB-SE) pediu a rejeição da PEC alegando que ela abre as portas do Congresso ao
crime organizado. Em seguida, o senador Jorge Seif (PL-SC), que havia
apresentado voto em separado para manter a proposta com algumas alterações,
retirou o relatório alternativo e votou junto com o relator.
O senador Alessandro Vieira ainda
rejeitou as emendas apresentadas pelos senadores Sérgio Moro (União-PR), Carlos
Portinho (PL-RJ) e Magno Malta (PL-ES), que pretendiam fazer alterações na PEC,
mantendo sua tramitação com modificações no texto.
Para o relator Vieira, as emendas
ficaram prejudicadas uma vez que a PEC sofre de “vício insanável de desvio de
finalidade”.
“O real objetivo da proposta não
é o interesse público – e tampouco a proteção do exercício da atividade
parlamentar –, mas sim os anseios escusos de figuras públicas que pretendem
impedir ou, ao menos, retardar, investigações criminais que possam vir a prejudicá-los”,
justificou.
Para especialistas e entidades
que atuam no combate à corrupção, a PEC poderia barrar ações penais contra
corrupção no uso de emendas parlamentares.
Debate
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA)
disse que a proposta cria uma “casta” de privilegiados e lembrou a mobilização
nacional das ruas em todas as capitais imediatamente após a
aprovação da PEC na Câmara.
“[A PEC] nasceu com o objetivo de
criar um muro de impunidade e criar, na verdade, uma nova casta no Brasil, que
seria uma casta daqueles que podem cometer crimes e estariam fora dos rigores
da lei.”
O senador Humberto Costa (PT-PE)
lembrou que os deputados até rezaram após a aprovação da PEC da Blindagem na
Câmara, destacando que muitos mudaram de posição após a reação da sociedade.
“O Senado hoje vai decretar o fim
dessa proposta indecente, mas a coisa mais importante, no meu ponto de vista, é
que realmente a máscara da extrema direita caiu no nosso país”, disse.
O líder da oposição no Senado,
senador Carlos Portinho (PL-RJ), rebateu Humberto dizendo que a PEC é um
absurdo, mas destacou que a base do governo também votou a favor da proposta.
“Essa PEC é uma indecência.
Nenhum de nós, seja de que partido for, vai estar aqui para defender bandido. O
caso citado da Assembleia legislativa do Rio é emblemático, de um membro do
Comando Vermelho que alçou uma vaga na Assembleia do Rio. É isso que temos que
nos preocupar e evitar”, ponderou.
Caso a PEC da Blindagem fosse
aprovada, a exigência de autorização para processar parlamentares também seria estendida aos deputados estaduais e distritais.
Especialistas temiam que essa imunidade servisse de um incentivo a mais para o
crime organizado ingressar nos parlamentos locais.
O líder do MDB no Senado, Eduardo
Braga (MDB-AM), também fez dura crítica a PEC da Blindagem, dizendo que a
proposta desrespeita o povo brasileiro e seria um grave retrocesso democrático.
“Essa PEC desmoraliza o mandato
popular. O MDB, imediatamente após a provação na Câmara, se manifestou em nota
oficial em nome dos 12 parlamentares do MDB com firma oposição contra a PEC da
Imoralidade, da Bandidagem e da Blindagem”, afirmou Braga.
Imunidade à opinião
Os senadores discutiram ainda a
chamada imunidade material dos parlamentares, que os protege por opiniões,
votos e palavras emitidas no exercício do seu cargo, prerrogativa prevista no
Artigo 53 da Constituição.
Para alguns, essa imunidade
estaria sendo violada no Brasil pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que
justificaria a PEC da Blindagem. Para outros, essa imunidade continua
protegida, mas mesmo essa prerrogativa não é absoluta e não protege o
parlamentar contra injúria, difamação e outros crimes.
O senador Omar Aziz (PSD-AM)
ainda diferenciou a imunidade material da imunidade processual, que a PEC da
Blindagem tenta retomar ao prever autorização prévia do Parlamento para
processos criminais contra deputados e senadores.
Aziz argumentou que a
Constituição de 1988 criou a imunidade processual para deputados e senadores
porque, naquela época, o Brasil ainda estava com uma democracia incipiente com
muitos parlamentares que haviam sido cassados durante os 21 anos da ditadura
civil-militar.
O senador do MDB disse que a
imunidade material não pode proteger contra palavras que buscam obstruir um
processo de investigação na Justiça. “Essa PEC é imoral - não é ideológica -
ela é imoral! Até porque um senador da República não tem o direito de expor a
família de ninguém”, disse Aziz.
O senador do MDB se referiu ao
senador Marcos do Val (Podemos-ES) que é investigado no STF por supostamente
promover uma campanha para intimidar e constranger policiais federais
responsáveis por investigações em andamento no Supremo. Ele também é suspeito de arquitetar um plano para anular as
eleições de 2022.
O caso do senador Marcos do Val é
usado como exemplo da suposta “perseguição” do STF por “crimes de opinião” de
parlamentares, uma das principais justificativas usadas pelos defensores da PEC
da Blindagem.
O senador Eduardo Girão
(Novo-CE), um dos defensores da tese de “perseguição” contra parlamentares,
disse que a Câmara “errou na mão” com a PEC da Blindagem, mas saiu em defesa do
senador Marcos do Val.
“O Senador Marcos do Val é uma
vítima exatamente desse processo. Acredito que nós precisamos corrigir isso”,
avaliou.
O líder do governo no Congresso,
senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), destacou que mesmo a imunidade por palavras
e opiniões, prevista na Constituição, não é absoluta e precisa ser contida
quando se excede e viola a lei.
“A Constituição de 1988, na sua
sabedoria, diz que nenhum direito é absoluto. Um parlamentar não pode fazer
apologia à morte de quem quer que seja. A imunidade é material para opinião,
palavra e votos, mas não absoluta. Um parlamentar não pode dizer para uma
deputada ‘eu não te estupro porque você não merece’, não pode fazer isso”,
ponderou Randolfe.
A liderança governista se referiu
a ofensa proferida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, quando ainda era
deputado, em 2014, contra a parlamentar Maria do Rosário (PT-RS). O
ex-presidente virou réu por apologia ao estupro devido a esse caso, chegou a
pedir desculpas à Rosário, mas o processo acabou arquivado pela Justiça do
Distrito Federal argumentando que os supostos crimes teriam sido prescritos
pelo tempo.



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