Descoberta sobre glicose no cérebro pode ajudar a combater Alzheimer
| Fonte: Notícias ao Minuto Foto: Shutterstock |
O armazenamento de glicose no
cérebro pode ter um papel muito mais relevante na degeneração dos neurônios do
que os cientistas imaginavam, o que pode abrir caminhos para novos tratamentos
de doenças como o Alzheimer.
Como explica David Nield, citado
pelo Science Alert, o Alzheimer é uma condição caracterizada pelo acúmulo
prejudicial da proteína tau dentro dos neurônios.
Ainda não está claro se esse
acúmulo é causa ou consequência da doença. No entanto, um novo estudo publicado
na revista Nature Metabolism trouxe dados importantes ao revelar interações
significativas entre a proteína tau e a glicose em sua forma armazenada, o
glicogênio.
Conduzido por pesquisadores do
Instituto Buck de Pesquisa sobre Envelhecimento, nos Estados Unidos, o estudo
lança uma nova luz sobre a função do glicogênio no cérebro — antes considerado
apenas uma reserva de energia para o fígado e os músculos.
"Esse novo estudo desafia
essa visão, e o faz com implicações impressionantes", afirma o biólogo
molecular Pankaj Kapahi, do Instituto Buck. "O glicogênio armazenado não
está apenas presente no cérebro, mas também está envolvido em processos
patológicos."
A partir de ligações já
conhecidas entre glicogênio e doenças neurodegenerativas, os pesquisadores
encontraram níveis elevados da substância tanto em modelos de tauopatia
desenvolvidos em moscas-da-fruta (Drosophila melanogaster) quanto em células
cerebrais de pessoas com Alzheimer.
Análises mais detalhadas
revelaram um mecanismo-chave: a proteína tau prejudica a quebra e o uso normal
do glicogênio no cérebro, favorecendo o acúmulo excessivo tanto de glicogênio
quanto da própria tau, e reduzindo a capacidade de defesa dos neurônios.
Um ponto central nesse processo é
a enzima glicogênio fosforilase (GlyP), que converte o glicogênio em energia
para o organismo. Quando os cientistas aumentaram a produção dessa enzima nas
moscas, os estoques de glicogênio voltaram a ser utilizados — o que ajudou a
conter os danos celulares.
"Ao aumentar a atividade da
GlyP, as células cerebrais conseguem eliminar melhor as espécies reativas de
oxigênio, que são tóxicas, reduzindo os danos e até prolongando a vida das
moscas com tauopatia", explica a bióloga Sudipta Bar, também do Instituto
Buck.
A equipe também investigou se uma
dieta restrita — já associada à saúde cerebral — poderia ajudar. Quando as
moscas afetadas pela tauopatia seguiram uma dieta com baixo teor de proteínas,
viveram mais e apresentaram menos danos cerebrais. Isso sugere que a mudança
metabólica induzida pela dieta pode estimular a atividade da GlyP.
Essas descobertas são
particularmente relevantes porque apontam para uma forma potencial de combater
o acúmulo de tau e glicogênio no cérebro. Os cientistas, inclusive,
desenvolveram um medicamento com base na molécula 8-Br-cAMP para simular os
efeitos da restrição alimentar — e obtiveram resultados semelhantes nos testes
com moscas.
O estudo pode ainda ter ligação
com pesquisas envolvendo agonistas do receptor GLP-1, como o Ozempic — remédio
usado para tratar diabetes e auxiliar na perda de peso, que agora também vem
sendo estudado por seu potencial protetor contra a demência. Segundo os
autores, isso ocorre porque esses medicamentos afetam vias relacionadas ao
glicogênio.
"Entender como os neurônios
processam o açúcar pode ter nos levado a uma nova estratégia terapêutica — uma
que atinge diretamente a química interna das células para combater o declínio
cognitivo associado à idade", diz Kapahi.
"À medida que nossa
sociedade envelhece, descobertas como essa trazem esperança de que uma melhor
compreensão — e talvez um reequilíbrio — do 'código oculto' do açúcar no
cérebro possa revelar ferramentas poderosas contra a demência."



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