É normal sentir tristeza após o parto?
| Fonte: Notícias ao Minuto Foto: iStock |
Trata-se da depressão pós-parto, um transtorno que pode
surgir semanas ou até meses depois, com impacto direto na saúde física e mental
da mãe, no desenvolvimento da criança e no equilíbrio de toda a família.
O puerpério é um período de intensas transformações
hormonais, sobrecarga física e exigências emocionais. O ideal social
de que a maternidade seja vivida unicamente com alegria pode agravar o
sofrimento, ao gerar culpa e isolamento nas mulheres que não se reconhecem
nesse contexto. “A depressão pós-parto não é uma fraqueza ou falta de
amor pelo bebê. É uma condição clínica que precisa ser diagnosticada e tratada,
assim como qualquer outro problema de saúde”, afirma Dr. Newton Silva,
ginecologista da UBS Vera Cruz, gerenciada pelo CEJAM- Centro de Estudos e
Pesquisa “Dr. João Amorim”, em parceria com a Secretaria Municipal da
Saúde de São Paulo (SMS-SP).
O quadro se caracteriza por tristeza persistente, perda de
interesse em atividades antes prazerosas, irritabilidade, choro frequente e
fadiga extrema. Podem ocorrer também sintomas físicos, como dores musculares,
cefaleia, alterações no apetite e insônia. Nos casos mais graves, há risco de
automutilação ou pensamentos de ferir o bebê. “Os sinais de alerta aparecem
quando sentimentos de ansiedade e desespero passam a interferir na rotina e no
cuidado com a criança, e quando a mãe começa a duvidar de suas habilidades
maternas. Esse é o momento de procurar ajuda médica imediatamente”, reforça o
especialista.
Fatores como a falta de apoio familiar e social, histórico
prévio de transtornos mentais, gravidez não planejada e estresse intenso
aumentam as chances de desenvolvimento da condição.
Depressão pós-parto ou baby blues?
Segundo o ginecologista, é comum que, nos primeiros dias
após o parto, a mulher apresente instabilidade emocional, choro fácil e
sensibilidade aumentada, reações conhecidas como baby blues. “É uma disforia
passageira, marcada por mal-estar e ansiedade. Surge, geralmente, entre o
segundo e o terceiro dia após o parto e desaparece espontaneamente em até duas
semanas. Apesar do desconforto, não compromete de forma significativa a
funcionalidade da mãe”, pontua.
Já a depressão pós-parto é mais duradoura e incapacitante,
exigindo intervenção profissional. Enquanto o baby blues está diretamente
ligado a ajustes hormonais e à adaptação à nova rotina, a depressão envolve um
conjunto mais complexo de fatores biológicos, psicológicos e sociais. “O
isolamento da puérpera, a tristeza persistente, a falta de motivação e a
dificuldade em estabelecer vínculo com o bebê não são comuns no baby blues e
merecem atenção redobrada de familiares e amigos”, orienta o médico.
Tratamento
No baby blues, a principal abordagem é o acolhimento e o
suporte emocional. O quadro tende a se resolver espontaneamente, mas contar com
rede de apoio, descanso adequado e compreensão do parceiro e familiares é
fundamental. Grupos de puérperas, rodas de conversa em Unidades Básicas de
Saúde e o acompanhamento pelo enfermeiro ou médico durante o puerpério ajudam a
reduzir a intensidade dos sintomas e prevenir agravamentos.
Já a depressão pós-parto requer intervenção profissional.
Segundo Dr. Newton, a combinação de psicoterapia e tratamento medicamentoso
costuma ser a mais eficaz. “A escolha de antidepressivos seguros, com baixa
passagem para o leite materno, permite que a mãe mantenha a amamentação. O
acompanhamento psicológico ajuda a reorganizar a rotina, reduzir a ansiedade e
resgatar o prazer nas atividades diárias”.
Pesquisas indicam que abordagens integrativas, como
atividade física orientada, técnicas de respiração, mindfulness e suporte de
grupos terapêuticos, podem potencializar os resultados, sempre sob supervisão
de profissionais de saúde. Em casos graves ou de risco para a mãe e o bebê,
pode ser necessário encaminhamento para atendimento especializado em saúde
mental, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
“O ponto mais importante é não normalizar a tristeza
persistente no pós-parto. Quanto mais cedo a intervenção, mais rápido e
completo tende a ser o processo de recuperação”, reforça Dr. Newton.
Linha de Cuidados Materno-Infantil no SUS
A Linha de Cuidados Materno-Infantil, oferecida pelo
SUS, integra ações desde o pré-natal até o puerpério, com protocolos
específicos para identificar e acompanhar casos de depressão pós-parto. Segundo
Edcley Soncin, gerente da UBS Horizonte Azul, gerenciada pelo CEJAM em
parceria com a SMS-SP, e responsável regional pela Linha de Cuidados
Materno-Infantil, o objetivo é oferecer atenção integral e humanizada, com foco
tanto na saúde física quanto mental da mãe. “As equipes das UBS e da Estratégia
Saúde da Família são treinadas para observar sinais de sofrimento psíquico e
encaminhar as mulheres para atendimento especializado, quando necessário. Esse
cuidado pode incluir psicólogos, psiquiatras e outros profissionais da rede”,
explica.
Durante o pré-natal, gestantes recebem orientações sobre
mudanças emocionais e passam por triagens para detectar ansiedade ou tristeza
intensa, acompanhamento que continua no pós-parto, inclusive em visitas
domiciliares. “A articulação entre médicos, enfermeiros, psicólogos, agentes
comunitários e assistentes sociais garante um cuidado multidisciplinar. Nosso
compromisso é que todas as mulheres tenham acesso a um cuidado digno e
contínuo”, reforça Soncin.



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