Anvisa aprova primeiro tratamento direcionado para câncer de ovário resistente à quimioterapia no Brasil
| Fonte: G1 Foto: Cancer Genome Atlas/NIH |
A Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do mirvetuximabe soravtansina –
de nome comercial Elahere. É o primeiro tratamento voltado a pacientes com
câncer de ovário que não respondem mais à quimioterapia padrão à base de
platina e que apresentam um marcador específico chamado receptor de folato alfa
(FRα). A decisão foi anunciada na segunda-feira (1º).
O medicamento é um conjugado
anticorpo-fármaco (ADC) que combina um anticorpo voltado ao receptor FRα com
uma carga quimioterápica capaz de destruir células tumorais, poupando a maior
parte das células saudáveis.
- “Resistente à platina” significa que o
câncer voltou em até seis meses após o fim da quimioterapia baseada nesse
tipo de droga, tornando o tratamento menos eficaz.
- Já “FRα positivo” indica que as
células tumorais apresentam uma proteína chamada receptor de folato alfa,
usada como alvo pelo novo medicamento. Estima-se que cerca de um
terço das pacientes com câncer de ovário tenham tumores com essa
característica.
Segundo estudo conduzido pela
farmacêutica AbbVie e publicado no New England Journal of Medicine, essa
é a primeira terapia a demonstrar benefício em sobrevida global em comparação à
quimioterapia em ensaios de fase 3 para esse grupo de pacientes.
Resultados dos estudos
A aprovação se baseia no estudo
clínico que envolveu mais de 450 pacientes. O ensaio mostrou que o novo
medicamento reduziu em 35% o risco de progressão da doença em
comparação à quimioterapia convencional.
Também houve ganho em
sobrevida global: pacientes que receberam o tratamento viveram, em média,
16,5 meses, contra 12,7 meses do grupo de quimioterapia. Além disso, a
taxa de resposta objetiva (redução do tumor) foi de 42%, contra 16% no grupo de
comparação.
Os dados foram apresentados no
congresso internacional de oncologia da ASCO (Sociedade
Americana de Oncologia Clínica).
Importância do biomarcador
O uso do medicamento depende de
exame de imuno-histoquímica, já disponível em laboratórios brasileiros, que
identifica quais pacientes têm tumores com alta expressão do receptor FRα.
“É fundamental testar o status do
FRα para definir quem pode se beneficiar do tratamento”, destaca a oncologista
americana Kathleen Moore, que coordenou parte do estudo.
Disponibilidade no Brasil
O câncer de ovário é uma das
principais causas de morte por câncer ginecológico no mundo. No Brasil, o
Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima cerca de 7,3 mil novos casos
por ano. A doença costuma ser diagnosticada em estágio avançado e tende a
reaparecer após o tratamento inicial.
Com a aprovação da Anvisa, o
Elahere passa a integrar o arsenal terapêutico disponível no país. Ainda
não há definição sobre a inclusão no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde
Suplementar) ou no Sistema Único de Saúde (SUS).
Nos Estados Unidos e na Europa, o
medicamento já havia sido autorizado em 2024. No Brasil, a liberação é vista
como um avanço, já que há mais de oito anos não surgia uma nova opção para
pacientes com câncer de ovário resistente à platina.
'Medicamento pode mudar o
cenário do câncer de ovário'
Para a oncologista Graziela Dal
Molin, vice-presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) e
diretora do International Gynecological Cancer Society (IGCS), a aprovação
representa um marco inédito:
“Esse medicamento é inovador, faz
parte da classe dos ADCs, um novo tipo de quimioterapia mais eficaz porque atua
em receptores específicos do câncer. Isso garante maior eficácia com menos
efeitos colaterais em comparação à quimioterapia tradicional. Pela primeira vez
em mais de 20 anos, vimos um desfecho positivo em sobrevida global nesse
cenário”, explica.
Segundo ela, o mirvetuximabe foi
avaliado em pacientes com tumores em estágio avançado, quando as opções
terapêuticas são escassas.
“Comparado à quimioterapia
convencional, o fármaco aumentou em mais de três vezes a taxa de redução das
lesões tumorais. Apesar de não ser curativo —é paliativo—, proporciona redução
dos tumores, menos sintomas, mais qualidade de vida e prolonga a sobrevida”, afirma.
Graziela reforça que o câncer de
ovário é o mais letal dos tumores ginecológicos, muitas vezes por ser
diagnosticado tardiamente, já que não há exames de rastreamento eficazes como o
Papanicolau ou a mamografia.
“A medicação não é indicada para
todas, mas sim para as pacientes cujo tumor apresenta o receptor de folato
alfa. O teste é feito no material da biópsia e, quando positivo, o
medicamento se mostra eficaz em cerca de 40% dos casos”, conclui.



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