Com 105 mortes em 2024, Brasil é o país que mais mata pessoas trans
Fonte: Agência Brasil Foto: Tomaz Silva |
No
ano passado, 105 pessoas trans foram mortas no Brasil. Apesar de o país ter
registrado 14 casos a menos que em 2023, o país segue, pelo 17º ano
consecutivo, como o que mais mata pessoas trans no mundo. Os dados são do
Dossiê: Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024: da
Expectativa de Morte a um Olhar para a Presença Viva de Estudantes Trans na
Educação Básica Brasileira, da Rede Trans Brasil.
O
dossiê, que foi lançado na última semana de janeiro redes
sociais da organização, reúne os casos divulgados por meios de
comunicação, como internet, redes sociais, jornais e emissoras de televisão, ao
longo do ano passado.
A
maior parte dos casos, 38%, foi na Região Nordeste, que continua sendo a que
mais registra mortes de pessoas trans desde 2022. A Região Sudeste aparece em
segundo lugar, com 33% dos assassinatos, seguida pelo Centro-Oeste, com 12,6%
dos mortes; pelo Norte, com 9,7%, e Sul, com 4,9% dos casos.
Entre
os estados, em números absolutos, São Paulo foi o estado com maior registro de
assassinatos: 17. Minas Gerais, com 10 casos, e o Ceará, com 9, aparecem em
seguida.
“A
queda no número de mortes de pessoas trans em relação a 2023 é um pequeno
alívio, mas não podemos ignorar que elas ainda acontecem. Isso reflete como o
Brasil está em um processo lento e desigual de mudança. Apesar de avanços em
debates públicos e de maior visibilidade, a violência e o preconceito ainda são
uma realidade para muitas pessoas trans. Essa trajetória mostra que, embora
existam sinais de progresso, a luta está longe de acabar”, diz a secretária
adjunta de Comunicação da Rede Trans Brasil, Isabella Santorinne.
A
organização é uma das que colaboram com a pesquisa Trans Murder Monitoring, que
monitora os assassinatos de pessoas trans e de gênero diverso em nível global.
A pesquisa considera os casos registrados até 30 de setembro de cada ano. Em
2024, foi registrado em nível global o maior número de assassinatos, 350
pessoas trans.
Apenas
a América Latina e o Caribe reúnem cerca de 70% dos casos, um total de 255. O
Brasil lidera o ranking com 106 mortes notificadas no período
considerado. Em seguida, estão México (71), Colômbia (25), Equador (14),
Honduras (6), Argentina (6), Guatemala (5), Venezuela (4), Cuba (3), Panamá
(3), Peru (2), Bolívia (2), Nicarágua (2), Uruguai (1), Porto Rico (1), Chile
(1), Guiana (1), Trindade e Tobago (1) e República Dominicana (1).
“É
muito contraditório, porque o país que mais consome pornografia trans no mundo
é o Brasil e o Brasil também é o país que mais mata pessoas trans, ou seja, as
pessoas sentem prazer e desejo pelos nossos corpos, e ao mesmo tempo sentem
ódio e repulsa pelos nossos corpos. É muito contraditório”, diz Isabella
Santorinne.
Perfil
A
maioria das mortes registradas no Brasil é de mulheres trans ou travestis, que
correspondem a 93,3% das vítimas. As demais vítimas, 6,7% são homens trans. A
maior parte tinha idade entre 26 e 35 anos (36,8%), era parda (36,5%) ou preta
(26%) e era trabalhadora sexual.
“Os
dados evidenciam e detalham a realidade violenta à qual pessoas trans e
travestis são submetidas. Nosso dossiê também revela que a faixa etária média
das pessoas mortas era de 26 a 35 anos e elas eram, em sua maioria, pessoas
racializadas, incluindo pretas e pardas. Além disso, muitos dos homicídios
registrados desde 2016 tiveram como vítima trabalhadoras sexuais que foram
assassinadas ou violentadas em seu local de trabalho, as ruas”, enfatiza
Isabella.
O
levantamento mostra ainda, que a maior parte dos casos, 66%, ainda estava sendo
investigada e que, em 34% deles, o suspeito foi preso. Dentre os casos com os
devidos registros, os agressores eram companheiros e ex-companheiros, em 14
casos; clientes, em nove; e nove foram de execução com possível envolvimento
com dívidas com agiotas, drogas e ligação com organizações criminosas.
As
mortes foram, a maioria, por arma de fogo e facada. Os homicídios ocorreram, a
maior parte, em vias públicas, seguido pela residência da própria vítima.
O
dossiê também analisou o respeito dos meios de comunicação aos nomes das
vítimas. No ano passado, 93,3% dos casos foram respeitados e 6,7% trataram as
vítimas pelo chamado nome morto, ou seja, o nome pelo qual a pessoa era chamada
antes da transição de gênero.
De
acordo com Isabella, o dossiê dá visibilidade aos assassinatos e violências
cometidas contra pessoas trans no Brasil e ajuda a desenvolver políticas
públicas. “Faltam políticas públicas voltadas para a proteção de pessoas trans.
Embora existam iniciativas pontuais, elas são insuficientes diante do cenário
de exclusão e violência que a população trans enfrenta. É urgente criar ações
que promovam educação inclusiva, empregabilidade, acesso à saúde e segurança,
além de garantir que crimes transfóbicos sejam devidamente investigados e
punidos. Sem políticas públicas eficazes, a luta pela sobrevivência e dignidade
continua sendo uma batalha diária para pessoas trans no Brasil”, diz a
secretária adjunta de Comunicação da Rede Trans Brasil.
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