Coreia do Sul admite ter 'exportado' crianças para adoção como se fossem 'bagagem' por décadas
| Fonte: G1 Foto: AP Photo/Ahn Young-joon |
Agências de adoção da Coreia do Sul enviaram
crianças para outros países como se fossem "bagagem" por
décadas, revelou uma comissão que investigou o caso no fim de março.
Algumas crianças foram
registradas como órfãs pelas agências, mesmo tendo pais. Além disso, em
casos de bebês que morreram antes da viagem, outras crianças foram enviadas no
lugar, segundo as autoridades.
Após dois anos de apuração, a
Comissão de Verdade e Reconciliação recomendou que o governo faça um pedido de
desculpas oficial. O relatório também sugere novas investigações e medidas de
reparação para as vítimas.
A comissão encontrou violações de
direitos humanos em pelo menos 56 casos. A investigação analisou um grupo de
367 crianças enviadas para adoção no exterior entre 1964 e 1999.
Esses menores foram adotados por
famílias em 11 países, incluindo Estados Unidos, França, Dinamarca e Suécia.
No relatório, a comissão divulgou
uma foto de bebês enrolados em cobertores e presos a assentos de avião em 1984.
A imagem foi publicada com o título: "Crianças enviadas ao exterior como
bagagem".
Segundo o documento, as agências
de adoção da Coreia do Sul cumpriam metas mensais de envio estabelecidas por
instituições estrangeiras.
"Por quase 50 anos após a
Guerra da Coreia, o governo priorizou a adoção internacional como uma
alternativa de baixo custo ao fortalecimento das políticas nacionais de
bem-estar infantil", afirmou a comissão.
As autoridades sul-coreanas não
fiscalizaram o sistema e nem impediram irregularidades. A comissão identificou
registros fraudulentos de crianças como órfãs, falsificação de identidades e
falhas na seleção de famílias adotivas.
A comissão foi criada por uma lei
do Parlamento em 2020. Oito integrantes foram indicados pelo governo e por
partidos de oposição.
Além do pedido de desculpas, a
comissão recomendou um levantamento sobre a situação de cidadania dos adotados.
Também sugeriu a criação de medidas para reparar vítimas que tiveram a
identidade falsificada, a ratificação da Convenção de Haia sobre adoção e o
compromisso das agências em restaurar os direitos dessas pessoas.
"Essas violações nunca
deveriam ter ocorrido", afirmou Park Sun-young, presidente da comissão.
"Precisamos nos unir — tanto os países que adotaram quanto os próprios
adotados — para lidar com as crises de identidade que muitos enfrentam."



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