Conflitos forjados e cenas alteradas: MP denuncia 68 PM’s após aumento de mortes em confrontos em MT
Fonte: G1MT Foto: Foto: Divulgação (Imagem ilustrativa) |
Neste ano, até maio, 86 pessoas foram mortas em
confrontos com as forças de segurança. No ano anterior, no mesmo
período, foram registradas 87.
O Ministério Público informou que, em 2023, mais de
um a cada três homicídios foram cometidos por policiais militares. De
acordo com o órgão, é necessário que a Justiça intervenha para parar a violência
direcionada a grupos específicos da sociedade, jovens que habitam as
periferias, em geral marcados pela cor da pele e pela condição social de
pobreza.
A TV Centro América também pediu
informações sobre o gênero, raça e idade das pessoas que morreram, mas
a Sesp informou que esses dados não são obrigatórios na hora de
preencher o Boletim de Ocorrência e que, por isso, não tem o levantamento do
perfil das vítimas.
Conflitos forjados e cenas alteradas
Na denúncia do MP, consta que a investigação resultou em 23 homicídios consumados, sem contar outras nove vítimas que conseguiram escapar com vida, e que perícias revelaram uma quantidade de disparos efetuados pelos policiais totalmente descondizente com as situações de “conflito”, sugeridas nos dados oficiais registrados pelos próprios militares.
"Em todos os casos, a Politec [Perícia Oficial e
Identificação Técnica] revelou a não preservação e intensas alterações nos
locais dos crimes”, acrescentaram", informou o MP.
Ainda conforme o MP, entre os exemplos citados, estão casos
em que o veículo utilizado pelos supostos “assaltantes” foram alvejados
por mais de 100 disparos de arma de grosso calibre, sem registro sequer de um
disparo por parte dos suspeitos.
Além disso, de acordo com as investigações, o grupo seguia
etapas semelhantes, onde uma pessoa, no caso um segurança particular, agia como
informante dos policiais e recrutava as vítimas para realização de supostos
assaltos. Em seguida, havia a preparação à ação policial simulada, depois a
reunião com as vítimas e, por último, a etapa da recompensa, quando o segurança
particular recebia pelos serviços prestados de cooptação das vítimas e
participação na empreitada criminosa.
Alvos
Apesar da ausência das informações que revelaria o perfil
das pessoas mortas, a antropóloga e professora do Departamento de Segurança
Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jacqueline Muniz, disse que,
na maioria das vezes, as principais vítimas são pessoas pretas, pobres e da
periferia.
“O fato de não se divulgar os dados, de quem são os mortos e
em que condições morreram, deixa duvidoso. A ausência de informação é uma
informação, está mostrando a ocultação e, mais que isso, incapacidade de gestão
sobre o próprio trabalho, de prestação de contas da atividade repressiva”,
disse Jacqueline Muniz.
A especialista também informou que, mortas, essas pessoas
deixam de contribuir com as investigações e, isso, acaba por favorecer os
grupos criminosos.
“Você está matando a ‘galinha dos ovos de ouro’ da
investigação. É menos um criminoso que será preso e entregue à Justiça. É menos
um que o crime tem que manter na cadeia. Matar o criminoso sai barato e o crime
organizado agradece, porque permite uma melhor reorganização e economia de
gastos”, pontuou.
Letalidade policial? Colocando os pingos nos is
Cinco criminosos foram neutralizados após reagirem à
polícia militar em Sorriso, dias atrás. Pergunto agora. Seria essa ocorrência
mais cinco mortes somadas na conta da "letalidade policial"? Seriam
os policiais que participaram do confronto, doravante suspeitos de execução,
considerando-se o resultado morte?
O problema dessas perguntas não reside em suas respostas:
um rotundo não! Mas na própria concepção de quem as concebe, cheio do
pressuposto de que o criminoso que morre é vítima potencial da polícia. Um
conceito distorcido que inverte os polos policial e bandido. Esse é o erro que
antecede a discussão sobre os tais 800% de aumento nas mortes que está sendo
atribuído à polícia.
Frise-se, quem morre num confronto policial, em regra,
atentou contra a vida de alguém que representa o Estado e defende nessa ação a
vida. Logo, se há quem, quando sofre um atentado, que venha representar
atentado à própria sociedade, este é o policial.
Por isso, age como extensão do Estado, do gari ao
procurador, do promotor ao professor, o policial que confronta legalmente um
criminoso que reage exigindo dele essa proporção técnica. Somos profissionais e
pressupor a tal "letalidade policial" é erro conceitual primário.
A letalidade que querem atribuir à "polícia que
mata" é, na verdade, letalidade criminal, isto é, fruto das facções e da
ineficiência de todo um sistema estatal, inclusos nele, vale dizer, até mesmo
quem propugna -- via cargo público -- essa falácia de que "a polícia
mata".
Dizer que não há distorções e exceções é algo que não
fazemos, mas daí usar a idônea instituição polícia em qualquer generalização
beira má-fé.
O policial não tem o dever de dispor da vida para o
criminoso evitando assim o que chamam de "letalidade policial". Quem
poderia negar que nossas guarnições quando neutralizam uma ameaça, esta ameaça
encontra-se armada, por vezes, até os dentes.
Quem, senão o policial, pode frear o poder que essas
facções querem impor mediante a violência?
Cremos na educação como meio central de ação na segurança
pública. No confronto em Sorriso dois eram menores, onde está a família?; um
deles tem dezoito anos feitos recentemente, onde está o ensino técnico e
profissionalizante?; dois deles são homens de vinte um anos, certamente optando
pelo crime como forma de ganhar a vida.
Recomendo conhecer a verdadeira realidade, não aquela
dentro dos gabinetes refrigerados, mas a nossa, do meu irmão de farda que está
na ponta, que em frações de segundo precisa agir dentro dos princípios legais,
protegendo a própria vida, de terceiros inocentes e a do agressor ativo. Em
frações de segundo, com batimentos cardíacos altíssimos, alterações do sistema
nervoso central, e claro, muitas vezes com o suor entre os olhos.
Assim, finalizo convidando todos aqueles que ainda
duvidam das nossas ações à estarem ombreados conosco num exercício simulado ou,
tecnicamente, em alguma ação, para justamente acompanhar e fiscalizar nossas
técnicas de enfrentamento às facções criminosas.
Alexandre Mendes - Cel PM - Comandante-Geral da PMMT
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