Política| A um mês do julgamento, Dilma não consegue mostrar força
A contagem
regressiva para o julgamento final da presidente afastada Dilma Rousseff
começou nesta segunda-feira (25/07). Segundo cálculos do presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), os trâmites para a fase final do processo devem
começar no dia 25 de agosto e durar cerca de três a cinco dias.
Até lá, o
termômetro para verificar se Dilma conseguiu reunir mais apoio será a votação
da pronúncia, prevista para 9 de agosto. Em maio, a presidente afastada
conseguiu 22 votos a favor entre os 81 senadores. No julgamento decisivo,
precisará de 28 votos ou ausências para voltar ao cargo. Aliados da presidente
avaliam que, se durante a pronúncia, o número de votos a favor não aumentar
significativamente, a defesa vai ter passado um atestado de fracasso.
Numa matemática
simples, Dilma parece ter um cenário favorável: basta ela conseguir mais seis
votos ou ausências entre os senadores. Levantamentos da imprensa brasileira
indicam apenas 38 senadores favoráveis ao afastamento definitivo. Vinte e cinco
não indicaram posição ou declararam estar indecisos. Já o grupo do presidente
interino Michel Temer precisa de 54 votos para permanecer de vez no poder.
Nos argumentos
para o julgamento, a defesa de Dilma marcou alguns pontos nas últimas semanas.
No início de julho, o Ministério Público Federal concluiu que não houve crime
comum nas chamadas "pedaladas fiscais" envolvendo empréstimos do
BNDES – embora tenha atestado que elas configuram delito de improbidade
administrativa. Já uma perícia realizada pela comissão do impeachment não
detectou ação direta de Dilma nas pedaladas.
Sem reversões de
voto
Ainda que a defesa
tenha ganhado argumentos mais robustos, alguns senadores avaliam que, nos quase
dois meses de afastamento, Dilma não criou fatos políticos que demonstrassem
força. Ao contrário do que ocorreu pouco antes da votação na Câmara, seu grupo
político ainda não reverteu nenhum voto de peso e anunciou o fato publicamente.
Apenas Cristovam Buarque (PPS-DF), que havia votado a favor do afastamento
temporário, tem aparecido entre os senadores que podem mudar de lado.
O grupo da
presidente também se mostra na defensiva. Neste domingo, Dilma divulgou nota
afirmando "que não pretende jogar a toalha" e negou mais uma vez que
pretende renunciar. A nota foi uma resposta a reportagens que citaram aliados
não identificados que teriam dito que um clima de desânimo tomou conta do
núcleo da presidente afastada.
Nos últimos dias,
Dilma também se viu obrigada a comentar as declarações de João Santana, seu
ex-marqueteiro, que admitiu ter recebido pagamento por meio de caixa 2 durante
a campanha da petista à Presidência em 2010.
Analista afirma
que ainda é cedo
Já o grupo de
Temer trabalha no momento para reunir pelo menos 54 votos na pronúncia com o
objetivo de antecipar uma tendência para o julgamento. Para atrair os senadores
ainda indecisos, o Planalto tem usado a força da caneta. O senador Romário
(PSB-RJ), por exemplo, que vinha se declarando indeciso, emplacou no fim de
semana um aliado em uma diretoria de Furnas, e agora é computado pelo grupo de
Temer como voto certo pelo impeachment. Já o senador Otto Alencar (PSD-BA), que
votou contra a admissibilidade do impeachment, agora aparece entre os que não
declaram voto. Nas projeções otimistas do grupo de Temer, o impeachment deve
passar com pelo menos 60 votos.
O analista Gaspard
Estrada, da Sciences Po, de Paris. afirma que "do jeito que as coisas
caminham, a tendência é que Temer seja mesmo confirmado de vez na
Presidência". Ele concorda que Dilma não tem conseguido criar fatos
favoráveis, mas adverte que ainda é cedo para uma afirmação definitiva. "Temer
ainda tem fissuras em sua base e é um presidente mais popular em Brasília do
que no Brasil. E existe sempre a possibilidade de que surjam novas revelações e
escândalos que podem tornar o cenário novamente imprevisível."
Do MSN
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