Mato Grosso| Governador é acusado de receber propina
Congresso em Foco
Eleito com um forte discurso
anticorrupção, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), é um dos
políticos acusados na delação premiada dos executivos do Grupo Queiroz Galvão.
O empresário Mario de Queiroz Galvão afirmou, em acordo de delação premiada
homologado no Supremo Tribunal Federal (STF), que pagou pelo menos R$ 1 milhão
em propina para o governador em outubro de 2012 e fevereiro de 2013, em três
parcelas. Segundo o delator, o núcleo político de Mendes havia pedido ao grupo
R$ 6 milhões, mas não foi atendido. As acusações se referem ao período em que
ele era candidato e prefeito eleito de Cuiabá pelo PSB.
As informações constam de
inquérito aberto pela Polícia Federal com base na delação premiada da Queiroz
Galvão no âmbito da Operação Lava Jato. O procedimento tramita no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), por envolver a suspeita de crime eleitoral, e teve
seu prazo para conclusão estendido por dois meses no último dia 4.
O processo cita trechos da
delação de Mario Galvão. Segundo ele, Mauro Mendes recebeu R$ 500 mil em 2012,
quando disputou com sucesso a prefeitura de Cuiabá, e outros R$ 500 mil quando
já era prefeito. O hoje governador nega a acusação e diz que declarou
legalmente as doações que recebeu da empreiteira.
Mario Galvão conta que fez a
doação para a campanha municipal de Mendes esperando a manutenção da concessão
dos serviços de água e esgoto do município com a CAB Ambiental, empresa que
pertencia ao grupo Queiroz Galvão. De acordo com o empresário, foram feitos
dois pagamentos na época, um no valor de R$ 400 mil, em 2 de outubro de 2012, e
outro de R$ 100 mil, em 23 de outubro.
“Estava implícito que as doações
serviriam para manter um bom andamento do contrato se eleito Mauro Mendes”, diz
trecho da delação. Os recursos foram transferidos para o diretório nacional do
PSB, partido de Mendes na época, e, então, repassados para a candidatura.
Doações empresariais eram permitidas naquele ano, desde que fossem declaradas à
Justiça eleitoral.
A prestação de contas de Mauro
Mendes em 2012 confirma os dois repasses da Queiroz Galvão no total de R$ 500
mil, registrados nos dias 4 e 25 de outubro, entre o primeiro e o segundo
turno.
Procurado pelo Congresso em Foco,
o governador diz que desconhece a investigação e que jamais condicionou
qualquer ato ao recebimento de vantagens financeiras. Mendes não fez
referência, no entanto, aos outros R$ 500 mil citados pelo delator.
Pedido de R$ 6 milhões
Mario de Queiroz Galvão também acusa o então presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt) à época, Jandir Milan, de ter solicitado R$ 6 milhões em benefício de Mauro Mendes, de quem é amigo particular.
Segundo o delator, o pedido foi feito em uma reunião no dia 13 de novembro, na sede da Queiroz Galvão no Rio de Janeiro e contou com a presença do então recém-eleito prefeito de Cuiabá. O executivo disse que se negou a atender ao pedido, alegando que a empreiteira não tinha condição financeira de fazer o pagamento.
Em fevereiro do ano seguinte, em
2013, a Agência Municipal de Regulação de Serviços Delegados (Arsec) deixou de
aplicar reajuste da tarifa de água de 14,98%, previsto em contrato, e reduziu o
valor da tarifa em 0,92%. A medida foi classificada pelo delator como uma
retaliação de Mauro Mendes por conta do não pagamento da propina de R$ 6
milhões.
O empreiteiro relatou que o
presidente da CAB Ambiental, Italo Joffoly, pediu a ele que doasse novo
montante à regional do PSB, partido de Mendes na ocasião. Segundo a delação, a
Galvão Engenharia transferiu R$ 500 mil para o Diretório Municipal do partido
em Cuiabá, então controlado por Mauro Mendes. Mario também revela que foram
feitos pagamentos "em espécie", mas não diz se foi referente a uma
nova propina referente aos R$ 6 milhões solicitados.
O governador Mauro Mendes também
foi citado na delação do empresário Júnior Mendonça, que deu origem à Operação
Ararath. Em 2014 ele foi alvo de busca e apreensão quando ainda exercia o cargo
de prefeito. A PF investigou um contrato de R$ 3,2 milhões com a empresa
Amazônia Petróleo e Júnior Mendonça, acusado de agiotagem que teria emprestado
dinheiro a Mendes. Como o contrato não chegou a ser executado, a investigação
foi arquivada. O nome dele também aparece nas delações do ex-governador de Mato
Grosso Silval Barbosa e do ex-secretário Pedro Nadaf.
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